Por Rodrigo Frota Urologista com foco em Urologia Oncológica. Atua no CopaStar e Hospital Quinta D’Or. Realizou mais de 150 procedimentos urológicos por robô nos últimos 12 meses
Segundo estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca), 22,8% dos novos casos de câncer diagnosticados no homem hoje, no Brasil, tem a próstata como foco primário¹. Em números absolutos o câncer de próstata já supera o câncer de mama como tipo mais comum, atingindo mais de 60 mil brasileiros por ano (excluindo-se o câncer de pele não melanoma).²
A glândula prostática faz parte do órgão reprodutor masculino e está situada entre a bexiga e a uretra, atrás do osso púbico. Sua localização, de difícil acesso, por muito tempo impediu o diagnóstico precoce destes tumores, com pacientes apresentando a doença já em estágio tardio onde a cura não é possível. Na década de 1990, a introdução da dosagem do PSA revolucionou a abordagem ao câncer de próstata³. Em conjunto com o toque retal, esse exame laboratorial, que avalia expressão sanguínea de uma proteína produzida no líquido prostático, permite detectar tumores ainda no estágio inicial, em que as taxas de cura podem atingir níveis superiores a 90%.4
Em associação com os avanços na detecção precoce que permitiram diagnóstico numa fase ainda curável, o desenvolvimento tecnológico permitiu inúmeras alternativas para o tratamento do câncer de próstata. Hoje, dependendo do tipo de tumor, o tratamento pode ir desde apenas vigilância ativa até a terapia multimodal em que cirurgia, radioterapia e hormonoterapia são empregadas de forma sequencial, visando elevação das taxas de curas em tumores mais agressivos. Essa variabilidade na abordagem terapêutica tornou o câncer de próstata um exemplo típico de uma doença multidisciplinar.
No Centro de Oncologia da Rede D’Or, contamos com uma equipe de cirurgiões, radioterapeutas, oncologistas clínicos, radiologistas e patologistas especializados em câncer do aparelho gênito-urinário. Os pacientes são avaliados em conjunto, de forma a oferecer sempre a melhor opção terapêutica e maximizar a chances de cura com menor incidência de efeitos adversos.
Tratamento diferenciado
A cirurgia para o câncer de próstata consiste da retirada em bloco da próstata e vesículas seminais acompanhada da ressecção de linfonodos, que são gânglios linfáticos para onde o tumor prostático se dissemina. Cada vez mais, técnicas alargadas de ressecção desdes gânglios, chamada linfadenectomia estendida, tem demonstrado elevar as taxas de cura em pacientes com tumores agressivos. É neste momento que a atenção especializada, oferecida por cirurgião urológico com formação oncológica, pode fazer a diferença.
Outros aspectos importantes estão relacionados a preservação da função erétil e da continência no pós-operatório. Sabe-se que a preservação da musculatura do assoalho pélvico pode proporcionar a preservação da continência na vasta maioria dos casos. A preservação dos nervos do plexo peri-prostático está associada com a preservação da potência sexual também na maioria dos casos. No entanto, a aplicação destas técnicas exige treinamento específico, e a literatura médica demonstra melhores resultados quando são aplicadas por cirurgiões especializados.
Câncer de próstata e cirurgia robótica
O câncer de próstata é o câncer mais comum em homens e, conforme já mencionado, pode ser tratado por meio de cirurgia (via aberta, via laparoscópica ou laparoscópica assistida por robô), radioterapia ou acompanhado sem intervenção (vigilância ativa), de acordo com o estadiamento da doença. A via robótica está bem consolidada na literatura e apresenta melhores resultados cirúrgicos (tempo de internação, sangramento per e pós-operatório e retorno às atividades profissionais) e funcionais (recuperação da função erétil e continência urinária), quando comparado as demais técnicas5.
A cirurgia robótica é um procedimento cirúrgico no qual o médico realiza o procedimento por meio de um console, de onde comanda os instrumentos (pinças robóticas) inseridos no paciente. O braço do robô é o responsável por manipular as pinças introduzidas no paciente para a cirurgia – com total precisão, sendo importante salientar que todos os comandos são definidos e controlados em tempo real por médicos altamente treinados para a realização da cirurgia robótica. Na prática, um cirurgião comanda o equipamento – com um joystick, tendo acesso a uma visão tridimensional e mais precisa do que nas cirurgias convencionais. O cirurgião executa os movimentos no equipamento, que são replicados pelo robô, dentro do paciente, durante a cirurgia. Um cirurgião assistente fica próximo à mesa cirúrgica, com outros especialistas, para dar o suporte necessário ao procedimento.
A plataforma cirúrgica robótica Da Vinci, de alta tecnologia, contribui na precisão da dissecção da cirurgia, minimizando sangramento. O sistema também oferece uma imagem 3D que permite a visualização mais precisa, possibilitando a localização de tumores dentro de órgãos sólidos, assim como a identificação de áreas mais vascularizadas.
Este tipo de cirurgia foi desenvolvido tanto para melhorar a capacidade dos cirurgiões, com a realização de cirurgias abertas, quanto para minimizar o impacto em cirurgias minimamente invasivas. Nos Estados Unidos, atualmente, há cerca de 3.500 robôs cirúrgicos em atividade.
Mundialmente, cerca de 60% das cirurgias robóticas são feitas por doenças ligadas à urologia e 20% pelo restante das demais especialidades médicas6, números que já são similares na Rede D’Or São Luiz. No mês de outubro, a Rede completou 2.000 procedimentos realizados em dois anos do programa de cirurgia robótica com seis plataformas instaladas (Hospital Quinta D’Or e CopaStar-RJ; Hospital São Luiz - unidades Itaim e Morumbi e Hospital Brasil - SP; e Hospital Esperança - PE).
Vale ressaltar que, hoje, em mãos de cirurgiões habilitados e experientes, quase todas as cirurgias urológicas podem ser realizadas pela técnica robótica.
Referências
1. Armstrong AJ, Garrett-Mayer E, de Wit R, Tannock I, Eisenberger M. Prediction of survival following first-line chemotherapy in men with castration-resistant metastatic prostate cancer. Clin Cancer Res. 2010;16(1):203-11.
2. Instituto Nacional de Câncer. Próstata. 2016. Disponível em: . Acesso em: 28 nov. 2017.
3. Neal DE, Jr, Clejan S, Sarma D, Moon TD. Prostate specific antigen and prostatitis. I. Effect of prostatitis on serum PSA in the human and nonhuman primate. Prostate. 1992;20:105–111.
4. ANNALS OF INTERNAL MEDICINE. Reconciling the Effects of Screening on Prostate Cancer Mortality in the ERSPC and PLCO Trials. 2017. Disponível em: . Acesso em: 19 nov. 2017.
5. TEWARI, Ashutosh et al. Positive Surgical Margin and Perioperative Complication Rates of Primary Surgical Treatments for Prostate Cancer: A Systematic Review and Meta-Analysis Comparing Retropubic, Laparoscopic, and Robotic Prostatectomy. European Urology, [s.l.], v. 62, n. 1, p.1-15, jul. 2012. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.eururo.2012.02.029.
6. THE NATIONAL CENTER FOR BIOTECHNOLOGY INFORMATION. Past, present and future of urological robotic surgery. 2016. Disponível em: . Acesso em: 18 nov. 2017.